Um tempo lindo para estar vivo, antes de tudo, é um documentário sobre resistência, sobre produzir na raça e acreditar no que se está fazendo, sobre bandas que investem tempo e dinheiro para produzir coisas sinceras, sobre produtoras que se esforçam continuamente para proporcionar um cenário ativo e democrático para os artistas, sobre amizade, sobre fazer amizades, sobre o sorriso no rosto da plateia, a energia de uma distorção que chama nossas almas para dançar, sobre canções que nos abraçam, sobre um movimento espontâneo que, mesmo contextualizado em um cenário político tão desestruturado e perigoso (FORA TEMER), está aí para provar que a arte irá resistir, que não iremos parar e que é tudo muito lindo o que anda acontecendo. Não vamos parar, não vamos deixar isso morrer.
-Leonardo Santos
O Leo tem sempre um projeto novo dentro do bolso, quase todo dia ele me arrasta pra uma nova empreitada. Leo traduz em si o sentimento do DIY. O princípio da iniciativa e a força pra se levantar da cama que eu não tenho se encerram no Leo. A cada 3 semanas, eu tenho uma crise de rinite.
E então, ali ao som do sambinha que tocava na praça e do rock que estrondava na caixa, pareceu que eu estava rodeado pelo mesmo arquétipo que vejo no Leo, uma pequena multidão de gente que resolveu fazer algo, um contraponto à imagem do slacker da geração anterior, disposição e diligência se manifestaram como palavras de ordem. Mesmo com o invólucro de angústia, crise existencial e melancolia que vez ou outra se apresenta na temática musical – vestígio da influência da música dos anos 90, marcada pela carga emocional, e principal causa da criação do gênero, por assim dizer, “rock triste” – o que se revela no comportamento dos envolvidos nos projetos que tocaram naquela noite é uma total predisposição, até um certo joie de vivre, não se via o olhar apático perdido no cantinho do recinto de quem tá acostumado a fitar os próprios sapatos. E cada um parecia sentir o quão é lindo se estar vivo.
A rinite me causa uma insustentável congestão nasal. Mas, pelo menos naquele momento, ninguém precisava assoar o nariz.